quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Tempo escolar estendido

                          MEC quer acrescentar 20 dias ao ano escolar - aumento, que depende do Congresso, também pode se dar na carga horária diária
                                        (Manchete e sub-manchete da FSP, hoje)

Ainda bem que o ministro Hadadd enfatiza a necessidade de estender a carga horária de permanência dos alunos na escola. Crianças e jovens mais tempo na escola pública bem equipada é medida acertadíssima. A premência dessa deliberação aviva, entretanto, outras necessidades. Já pensou nelas, leitor? Acompanhe a minha reflexão:

Providências estruturais -  Não basta apenas estender a carga horária com o aumento de 20 dias ao calendário escolar, ora vigente em 200 dias - ou esticar a carga horária diária na escola, atualmente em 4 horas. A escola pública, municipal ou estadual, requer providências estruturais imediatas.


O lindo e mal preservado Instituto de Educação- Curitiba, arq. pessoal

Penso que o ministro, os deputados e os vereadores dos municípios brasileiros deveriam visitar as escolas primeiramente, mas as visitas não poderiam constituir atitude panfletária com vistas à próxima eleição às prefeituras e câmaras municipais pelo Brasil afora. Infelizmente, as visitas políticas são agendadas com antecedência. Suponho que as dificuldades estruturais escolares recebam certa maquiagem, afinal, há um séquito de assessores que trabalha no antes e no depois da visita, ainda mais quando a imprensa registra a ida de qualquer político nas aparições públicas. Nenhuma excelência quer ficar mal vista ou mostrar contradições nas fotos ou vídeos.
 
Eu, por exemplo, cidadã, ex-aluna e mãe de estudante matriculada em escola pública, quando entro em uma escola, seja pública ou particular, atento aos seguintes aspectos gerais:

1- O prédio reúne boa aparência; está bem conservado ou exige consertos pontuais?
2- Como age a recepção escolar?
3- Pais e visitantes ocasionais saem da escola com boa impressão da acolhida? Percebem boas condições de segurança aos que estão nela trabalhando ou estudando?
4- A escola reúne salas especiais, por exemplo, de informática, laboratório de língua estrangeira, atividades artisticas, etc? A biblioteca apresenta-se bem equipada e com pessoal de apoio pronto ao atendimento dos alunos e da comunidade vizinha?
5- A área de convívio aberto é agradável? Há, por exemplo, um espaço coberto para que o recreio possa ser usufruido sem descontinuidade, em caso de chuva ou mudança repentina do tempo?
6- Os professores parecem satisfeitos com a remuneração que recebem? O pessoal de apoio administrativo, também?
7- Há um tempo destinado aos professores para que planejem as suas atividades?
8- Há um refeitório? Ele comporta a movimentação dos estudantes? Está em seguras condições? Há suprimento suficiente de merenda escolar? 
9- As crianças e os jovens parecem felizes e integrados ao espaço escolar? Qualquer criança poderia mostrar o interior da escola a qualquer visitante?
10- Eu deixaria a minha filha na escola diante das condições acima analisadas?

Veja  o local da biblioteca da EEBarão do Rio Branco- Belém(PA), arq. pessoal
A última questão, se me permite o leitor adjetivá-la, é crucial e incisiva. Queria ouvir o que responderia o ministro Hadadd, assim como os governadoresprefeitossenadoresdeputados e vereadores, se indagados à saída da escola visitada.

Diga lá! - A imprensa bem que poderia acolher e produzir a minha pergunta de nº 10, não é mesmo, leitor? Não valeria, no entanto, perguntar se a visita fosse feita às escolas técnicas, mantidas com verbas do governo federal e nem à saida de um Colégio Militar, tradicionalmente escolas em melhores condições, se comparadas com as públicas tradicionais. O resultado no Enem 2010 é evidência incontestável.

Suporte financeiro necessário - O ministro da Educação afirmou, segundo a reportagem da Folha, que os recursos necessários às mudanças cogitadas poderiam vir com a destinação de 7% do PIB para a educação. Bom. O que será preciso fazer para que a verba aumente mais 2%, uma vez que apenas 5% é destinado atualmente à esfera educacional? Eu quero saber.

Ouvir o corpo docente e  pessoal administrativo - Acrescentar 20 dias ao calendário ou aumentar a carga horária de permanência diária é um bom começo, mas desde que não sobrecarregue o profissional do ensino, sem a devida contrapartida, assim como não sejam impostas quaisquer mudanças sem que as condições estruturais viabilizem o bom atendimento das necessidades dos que trabalham e estudam na escola pública. Você pensa assim também ou não está interessado no assunto, leitor?

Até a próxima!

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