quinta-feira, 3 de março de 2011

Professores & normalistas e leigos no magistério

Ainda bem menina eu via a minha mãe, professora normalista, sair de casa para trabalhar no turno da manhã, lá na única escola pública existente no bairro da Terra Firme, em Belém(PA). Estudantes normalistas e as professoras do antigo curso primário usavam uniforme azul e branco. Era uma regra nas escolas públicas. 

Normalistas e normalistas -Minha mãe trajava uma saia azul, bem acinturada e com uma pequena fenda atrás, na barra, exatamente na linha do zíper. Nos pés? Calçava sapatos pretos, geralmente fechados. Mantinha uma linha semelhante a todas as suas colegas professoras. Era assim que elas chegavam nas salas de aulas.  As estudantes, cujo curso era bem acolhido pela sociedade, repetiam o modelo, mas o tipo de saia era diferente. Tinha pregas. Nos pés? Calçavam meias branças e sapatos pretos. Na rua? Professoras e estudantes eram reconhecidas, o uniforme era a diferença. Outros tempos.

"Vestida de azul e branco
Trazendo um sorriso franco
No rostinho encantador
Minha linda normalista
Rapidamente conquista
Meu coração sofredor
(...)"
(Normalista, Nelson Gonçalves, letra de Bento Lacerda e David Nasser

Professoras... - A maioria era egressa do curso Pedagógico ou também conhecido como Magistério, equivalente oficial ao nosso Ensino Médio atual, porém eu ouvia mamãe falar nas professoras "leigas", ou seja,  aquelas que lecionavam sem a devida formação escolar ao ensino das crianças. A explicação para essa categoria era meio vaga para o meu entendimento de criança, mas depois, quando adolescente, também estudante normalista, percebi a existência das contradições e das medidas de socorro à demanda de escolares sem professores nas escolas públicas, além dos arranjos  municipais e estaduais para enquadrá-las, mesmo sem a habilitação necessária. Bom tema, leitor, para pesquisa da história da educação pública brasileira.

Aqui cursei o Magistério- Instituto de Educação Estadual Deodoro de Mendonça- bairro de Nazaré, Belém, Pará- Arquivo pessoal, 2010
O porquê do tema -  A conversa de hoje veio assim, quase de repente, em associação imediata com a reportagem  Para socióloga professoras enfrentam... (Simone Harnik, UOL Educação, hoje) que anuncia um concurso nacional para selecionar professores. Já não era sem tempo, entretanto, deve ser feito sim, sem a pressa costumeira na implantação das medidas disparadas pelo MEC. Os problemas com o Enem são exemplos inesquecíveis.

Compartilhe informações - Aí no seu Estado o curso de Magistério ainda é mantido em alguma escola pública? Farei uma busca aqui no Paraná e no Pará, uma vez que o tema é do meu interesse. 

Sobre o tema? Confira: Vestidas de azul e branco  e Pedagogas e Normalistas . Em breve trarei outros desdobramentos, porque a demanda do (des)interesse pelo magistério básico é um dos assuntos de primeira ordem nas deliberações educacionais no Brasil, concorda comigo leitor? As providências têm demorado e as vítimas do descaso estão aí.

Até a próxima!

2 comentários:

  1. oi, Doralice!
    Muito bem lembrado.. consegui visualizar as professoras e alunas, apesar de não ter feito o Magistério, lembro-me de quando minhas colegas faziam na Escola Wilson Camargo, o único que ofereceu por aqui tal Ensino Médio. Também ocorria de muitos fazerem o "colegial" e o magistério.Eram os alunos bem aplicados!

    Hoje em dia, no estado todo está abolido o magistério. Não sei de nenhuma escola particular que aceite leigos (q fizeram magistério). Só com nível Superior ou cursando.

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  2. Obrigada pelas informações, Nidiane.

    Será que você poderia fazer uma foto panorâmica da Escola Wilson Camargo? Ajudaria, assim, a manter a história dinâmica acerca das instituições públicas brasileiras que um dia sediaram o excelente curso de Magistério. Sugiro, inclusive, que você faça uma postagem sobre o tema, colega professora.

    Receba o meu abraço afetuoso.

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