Em nossa prática sabe o que percebemos? Existe mais espaço para inovação no projeto de escolas públicas do que privadas!
Hoje, com muita alegria, encontrei um interlocutor com visão técnica sobre o tema, lá na minha página tuiteira. Foi o arquiteto Alvaro Lima. Gostei da conversa. Com ele descobri aspectos desconhecidos para mim. Veja nos destaques em itálico a reprodução de alguns dos tuites que ele escreveu sobre o tema.
nós estamos atentos à arqescolar mas há hospitais desconfortaveis casas feias indust ineficientes. E maus arquitetos e mais aqui: no processo de licitaçao publica vence o menor preço. É dificil filtrar a incompetencia sem correr o risco de injustiça.
Arrojo visível no projeto e construção do centenário Colégio Estadual Tiradentes, localizado nos arredoes do Passeio Público, Curitiba, arq. pessoal |
Com a cabeça cheia de perguntas - Fiquei, entretanto, com algumas questões, leitor. Quer vê-las?
1- Se há mais espaço à inovação no projeto de escolas públicas do que privadas, segundo o arquiteto escolar em destaque, por que as escolas atuais que avistamos são feias, desengonçadas e desconfortáveis?
2- Vencer o menor preço nas tomadas licitatórias não é , aqui entre nós, o melhor para as crianças e jovens em uma escola a ser construída. Por que deveria vencer o menor preço se ele é sinônimo de baixa qualidade, por exemplo do material de construção?
3- Há o cargo de arquiteto e de engenheiro civil dentro do quadro de funcionários municipais? Quanto ganham? É um salário com piso nacional?
4- Há um padrão a ser seguido no projeto de construção de uma escola pública? Será que os projetos atentam às contingências climáticas?
5- Uma escola amazônica requer áreas de ventilação permanentes e abrigos para a chuva desde a entrada. Há quem atente às diferenças na hora de assinar um projeto voltado ao Sul ou Nordeste brasileiro?
6- O que mudou no processo de licitação de hoje com relação ao feito outrora? Vejo as escolas antigas e me pergunto: por que as de hoje são tão feias e exigem reformas anuais?
Projeto arrojado que exige agora apenas os cuidados à manutenção tem o Instituto de Educação do Pará- Arredores da Pça da República, Belém, arq. pessoal |
Até a próxima!
Certamente é um assunto interessante e pouco explorado.
ResponderExcluirAs licitações públicas pelo critério de 'menor preço' é caso de polícia! O público recebe o que há de pior e paga um preço elevado por isso.
Me atendo ao assunto, creio que posso citar como uma referência arquitetônica em educação pública no Brasil as escolas modulares do FDE [http://www.fde.sp.gov.br/pagespublic/Home.aspx], pois exibem uma relação custo/benefício teoricamente boa, onde alguns escritórios de arquitetura se aventuraram em seus módulos pré-concebidos e conseguem resultados satisfatórios na busca de uma arquitetura mais harmônica e humana.
Recentemente publiquei n'O Lápis Verde uma proposta arquitetônica escolar sueca [http://olapisverde.blogspot.com/2012/02/escola-como-deveria-ser.html] muito interessante, onde as escolas são 'abertas' e propiciam o exercício do raciocínio.
Existe também um bom trabalho numa tese de doutorado da ufrj [http://www.fau.ufrj.br/prolugar/arq_pdf/teses/g_arteiro.pdf]
Inclusive pesquisando o assunto, encontrei uma matéria na revista aU, especializada [http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/178/imprime122877.asp]
Espero ter ajudado um pouco.
Post Scriptum: Gosto muito do seu blog!
Obrigada pelos links, visita e comentário centrado no tema da postagem, Marcelo; examinarei as suas indicações com o afã de interessada na questão arquitetura escolar.
ExcluirQuanto à apreciação expressa pelo NaMira, alegro-me com a sua generosidade. O Lápis Verde é um das minhas páginas preferidas; assim , caro blogueiro, estamos empatados.
Olá professora Doralice.
ResponderExcluirContinuando nosso bate-papo agora neste espaço do blog:
Respondi algumas das questões propostas por você. Sobre as outras, ainda estou pensando. Lá vai:
1 - Porque as escolas particulares também o são. E as casas, e os hospitais e os escritórios. Essa discussão foge da questão público/privado. O mercado está cheio de profissionais mal formados.
2 - Aí tem-se que esclarecer um erro comum. Para a construção de uma obra pública há basicamente duas licitações completamente distintas.
A primeira, a licitação de projeto, onde o escritório vencedor será aquele que, atendendo à certos requisitos técnicos, oferecerá o melhor preço.
Como você bem disse, isso é um problema, pois embora os editais exijam dos participantes certa experiência no tipo de projeto em questão, e essa experiência deverá ser comprovada através de documentos emitidos pelo CREA ou CAU (os conselhos que agregam as classes de engenheiros e arquitetos, respectivamente), basta ao escritório "contratar" um profissional que detenha tal acervo de projetos e poderá concorrer. Esse profissional contratado muitas vezes nem mesmo atuará no projeto licitado. Apenas "aluga" seu acervo para atender ao edital.
Resultado: empresas sem a experiência devida ganham a licitação com um preço baixíssimo, prejudicando inclusive a classe, e não conseguem entregar um projeto com a qualidade mínima.
Enfim, esse escritório, bom ou ruim, é que vai elaborar o projeto de arquitetura, os projetos de engenharia, toda a especificação de materiais e a planilha de custos da obra. Não há interesse deste escritório em especificar material de segunda. E os preços que comporão a planilha são fornecidos por índices oficiais baseados no mercado.
A segunda licitação será a licitação da obra, da qual o autor do projeto não poderá participar, evidentemente. A obra deverá tomar por base o projeto feito pela empresa vencedora da primeira licitação, com todas as suas especificações.
Então por que as escolas são tão mal construídas?
Algumas possibilidades:
As prefeituras destinam uma verba muito pequena para a construção da obra, sob o argumento que com a verba de uma escola poderão construir duas ou mais.
A prefeitura pressiona projetista e construtora para fazer o trabalho com pressa exagerada para poder inaugurar obras a tempo de campanha eleitoral.
Os projetos de arquitetura são muito ruins por inexperiência ou incompetência.
As construtoras são muito ruins. Lembre-se que ganhou a de menor preço e que a comprovação de experiência pode ser "comprada".
O projeto tem que especificar os materiais mas não pode citar marcas, então a construtora compra o produto mais barato do mercado.
Parte do dinheiro é desviada e a obra fica incompleta.
O sucesso ou o fracasso de uma obra depende portanto da qualidade do projeto e da qualidade da construção.
4-No estado de São Paulo, há um padrão, ditado pelo FDE.
Digamos que atentar às contingências climáticas é dever de todo arquiteto para qualquer tipo de edifício.
5-Conforme o valor da licitação de projeto, ela será publicada no diário oficial da União e estará aberta a profissionais de qualquer região do país. Assim, uma escola na amazônia poderá vir a ser projetada por um arquiteto gaúcho que irá ao local da obra pela primeira vez na vida para assinar seu contrato. Em teoria não é problema porque um profissional que se propôe a participar da licitação está implicitamente ciente das condições locais e saberá levá-las em conta. Mas... novamente a história do menor preço, etc.
É isso por enquanto. Espero colaborar com a discussão. Passe lá no www.arquiteturaescolar.com.br. Ficarei honrado com sua visita.
Álvaro de Lima Castro
Olá professora Doralice.
ResponderExcluirContinuando nosso bate-papo agora neste espaço do blog:
Respondi algumas das questões propostas por você. Sobre as outras, ainda estou pensando. Lá vai:
1 - Porque as escolas particulares também o são. E as casas, e os hospitais e os escritórios. Essa discussão foge da questão público/privado. O mercado está cheio de profissionais mal formados.
2 - Aí tem-se que esclarecer um erro comum. Para a construção de uma obra pública há basicamente duas licitações completamente distintas.
A primeira, a licitação de projeto, onde o escritório vencedor será aquele que, atendendo à certos requisitos técnicos, oferecerá o melhor preço.
Como você bem disse, isso é um problema, pois embora os editais exijam dos participantes certa experiência no tipo de projeto em questão, e essa experiência deverá ser comprovada através de documentos emitidos pelo CREA ou CAU (os conselhos que agregam as classes de engenheiros e arquitetos, respectivamente), basta ao escritório "contratar" um profissional que detenha tal acervo de projetos e poderá concorrer. Esse profissional contratado muitas vezes nem mesmo atuará no projeto licitado. Apenas "aluga" seu acervo para atender ao edital.
Resultado: empresas sem a experiência devida ganham a licitação com um preço baixíssimo, prejudicando inclusive a classe, e não conseguem entregar um projeto com a qualidade mínima.
Enfim, esse escritório, bom ou ruim, é que vai elaborar o projeto de arquitetura, os projetos de engenharia, toda a especificação de materiais e a planilha de custos da obra. Não há interesse deste escritório em especificar material de segunda. E os preços que comporão a planilha são fornecidos por índices oficiais baseados no mercado.
A segunda licitação será a licitação da obra, da qual o autor do projeto não poderá participar, evidentemente. A obra deverá tomar por base o projeto feito pela empresa vencedora da primeira licitação, com todas as suas especificações.
Então por que as escolas são tão mal construídas?
Algumas possibilidades:
As prefeituras destinam uma verba muito pequena para a construção da obra, sob o argumento que com a verba de uma escola poderão construir duas ou mais.
A prefeitura pressiona projetista e construtora para fazer o trabalho com pressa exagerada para poder inaugurar obras a tempo de campanha eleitoral.
Os projetos de arquitetura são muito ruins por inexperiência ou incompetência.
As construtoras são muito ruins. Lembre-se que ganhou a de menor preço e que a comprovação de experiência pode ser "comprada".
O projeto tem que especificar os materiais mas não pode citar marcas, então a construtora compra o produto mais barato do mercado.
Parte do dinheiro é desviada e a obra fica incompleta.
O sucesso ou o fracasso de uma obra depende portanto da qualidade do projeto e da qualidade da construção.
4-No estado de São Paulo, há um padrão, ditado pelo FDE.
Digamos que atentar às contingências climáticas é dever de todo arquiteto para qualquer tipo de edifício.
5-Conforme o valor da licitação de projeto, ela será publicada no diário oficial da União e estará aberta a profissionais de qualquer região do país. Assim, uma escola na amazônia poderá vir a ser projetada por um arquiteto gaúcho que irá ao local da obra pela primeira vez na vida para assinar seu contrato. Em teoria não é problema porque um profissional que se propôe a participar da licitação está implicitamente ciente das condições locais e saberá levá-las em conta. Mas... novamente a história do menor preço, etc.
É isso por enquanto. Espero colaborar com a discussão. Passe lá no www.arquiteturaescolar.com.br. Ficarei honrado com sua visita.
Álvaro de Lima Castro
Inúmeras e preciosas as informações compartilhadas comigo, Álvaro; estou gratíssima e estimulada à conversa blogueira sobre o tema. Penso que os seus esclarecimentos técnicos e reflexões não poderão ficar "escondidos" em um espaço de comentários, mas sim em destaque, lá no topo da página. farei uma postagem exclusiva oportunamente.
ExcluirVocê poderá contribuir muito e muito com os esclarecimentos voltados à construção dos prédios escolares públicos; levarei a conversa adiante. Aguarde a minha visita, prezado arquiteto.