terça-feira, 28 de setembro de 2010

Com ou sem Alzheimer

Ontem saí de Curitiba e sentei naquela apertada poltrona do avião da Gol. O motivo? Ficar uma pequena temporada com a a minha mãe. Quem tem um familiar com o diagnóstico de Alzheimer sabe o quanto a família precisa ser unida, forte e atuante, inclusive financeiramente fraterna. Nossos pais viram filhos e a gratidão envolvente dá espaço, colo e mimo aos que nos precederam.
Cuidados filiais extremos exige o portador de Alzheimer; minha mãe aqui em  passeio com uma das minhas irmãs - Belém, às margens da baia do Guajará e imediações da Casa das 11 Janelas, fev. 2010

Entenda melhor  - A foto em destaque mostra a professora e pianista  Maria Luiza - ou Mariluce, como costumam chamar os conterrâneos alenquerenses - , no auge da sua alegria e no alcance dos seus 91 anos "bem vividos", tal como ela autodeclara.

Sintomas - Lapsos de memória, inapentência à alimentação, inquietação, insônia ilimitada, depressão, agressividade, delicadeza, silêncios intransponíveis e outros sinais da DA  têm surgido em minha mãe. Por sorte, nos momentos de clareza ela coloca os dedos sobre o teclado e contrasta os ruídos advindos com o trânsito nervoso de Belém com os acordes generosos da música. Momentos de disposição abençoados.

Sempre muito alegre e senhora de si, nos seus 91 anos de idade, é a  minha mãe; aqui no meio do arrastão do Arraial do Pavulagem -Belém, Estação das Docas, jun. 2010

Tudo bem claro-  Agora, querido leitor, é possível entender porque ela tocava as mesmas músicas, em sequência delirante e nervosa, assim como no meio das orações recitava versos da infância distante, na querida Alenquer paraense. A doença sorrateira avançava, sem que nos apercebéssemos do galope, da subtração do vigor das células cerebrais. No momento, felizmente, a ação medicamentosa e os cuidados vigilantes da família formam a âncora necessária para que a nossa matriarca esteja muito bem. O susto maior já passou e a exposição do assunto guarda certamente intenções esclarecedoras sobre a doença de Alzheimer.

Sugestões -  Peço-lhe, caro leitor, que se possível abrace bem forte a sua mãe, aí do seu lado - ou indistintamente o familiar querido. A vida com seus ais, ufas e obas é sempre uma surpresa. Não vale brigar com picuínhas, mas sim pela existência feliz, de tempos de paz. Aos que nos precederam enviemos as bençãos e compartilhemos os cuidados, os mimos, a tolerância - e na ausência deles, estendamos aos sem filhos, aos sem amor ou cuidados. Com ou sem Alzheimer hoje, amanhã e sempre mantenha-se bem informado. Não há melhor lugar do que a Associação Brasileira de Alzheimer.

Até a próxima!

4 comentários:

  1. Prezada Prof. Doralice,

    Não titubeio na escolha. Este seu texto foi o que mais me tocou até hoje. Pungente, e ao mesmo tempo doce. Remete-nos à necessidade de acordarmos todos para o que realmente conta na vida, enquanto é tempo, ou seja, enquanto estamos por aqui e ainda temos a companhia de pessoas que foram diretamente responsáveis não só pela nossa sobrevivência, mas sobretudo por muito do que temos de bom em nossas almas.
    Aproveito para me atrever a sugerir-lhe um filme, caso (pouco provável, mas vá lá) ainda não tenha tido a oportunidade: "O Filho da Noiva", argentino, de 2001.
    Abraços
    Alex

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  2. Alegro-me com a sua atenta leitura e comentário estimulante; apareça sempre. Um dos exemplares leitores no Twitter e arrojado comentarista no blog não poderá ficar ausente; faz falta no presente e fará certamente no futuro.

    Receba o meu abraço animado e feliz.

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  3. Olá Doralice,td bem?
    Que bom vc poder direcionar sua atenção e carinho a sua mãe. Esses momentos serão de muito proveito para tds os envolvidos.Que Deus abençõe sua trajetória.Abraços

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  4. Não tenha qualquer dúvida, Cenilda; ver minha mãe mais disposta e receptiva aos diversos cuidados é tranquilizador. Obrigada pela leitura e comentário.

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