quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Verdes anos, maracujás e treino da descrição

Será que o leitor leu Meus verdes anos, de José Lins do Rego? É um livro precioso e muito querido para mim; costumo reler determinados  trechos para aprender a exercitar com gosto a descrição. Veja ali um dos  meus excertos preferidos; está à página 345, na edição da Livraria José Olyimpio:
(...) Acordava com os seus cantos. Estalava nos gorjeios, vibrava ao sol, com os albores da madrugada. Corria da cama, ia mudar a água de seu cocho, deixava alpiste na gavetinha (...) E cantava. Enchia-me a alma aquela maravilha da criação. Os outros pássaros rondavam por perto da sua gaiola, atrás do alpiste que o meu príncipe derramava na sua abundância de lorde. (...) Até o juiz quando passava para a casa da Câmara, parava, gozando as delícias do meu canário. Era meu, todo meu...


Como é bonita a flor do maracujazeiro !- reprodução via Google


Eu nunca tive um canário ou qualquer animal, mas certa vez  joguei no quintal umas sementes de maracujá, quando ainda morávamos juntos, os irmãos e minha mãe, já uma senhora viúva naquela altura, lá na Rua João Balby, em Belém, no meu saudoso Pará. As sementes germinaram e dentro de um tempo perdido na memória um maracujazeiro começou a pedir espaço, logo à entrada da nossa cozinha, lugar estratégico de convivência e que abria a visão de todos para um quintalzinho lateral. No começo, tudo foi calmo e recompensador; em tempo de frutos - ah.. tivemos uma bela colheita doméstica. Como era bom quando eu estendia as mãos para pegar 1, 2, 3, 4 ou outra quantidade de maracujás! Vê-los em processo de desenvolvimento era uma lição de botânica; a linda flor, o fruto  dela brotando, aquela bolota verde crescendo e dentro de pouco tempo  a exibir um amarelo inconfundível. Lindas lembranças tenho do meu pé de maracujá, caro leitor.


Chegaram, porém, as lagartas e começaram a criar uma confusão danada em casa. Minha mãe certo dia disse com aquele seu ar de matriarca e dona de grandes decisões: olha, Dora, vamos ter que cortar o teu maracujazeiro, minha filha. Eu tremi, pois era o meu brinquedo, a minha floresta particular, o meu  queridinho. Chorei tal como choram as crianças diante do inevitável e os adultos na frente das factualidades. As minhas lágrimas, entretanto, não adiantaram. Nem mesmo o cartaz que escrevi com letras grandes e tive que subir na cadeira para bem colocá-lo sob os olhos de todos; nada obteve sucesso. O meu querido foi sacrificado, tal como o que tornamos necessário para bem tranquilizar a paz doméstica ou mundial. É a vida com seus ais e ufas e poucos vivas


Será que o leitor teve um brinquedo, um animal preferido ou uma pequena árvore na sua infância? Que tal descrever um deles? À descrição que tal acrescentar dados da sua alegria diante do ser querido? Prometo trazer aqui para cima as contribuições que surgirem ali na caixa de comentários, ora tão abandonada, coitadinha...


Até a próxima!

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