quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Árvores natalinas e suas histórias

Sempre busquei explicações para tudo nesta vida. Quer um exemplo? Quando eu morava em Belém nunca entendia completamente as razões para a manutenção das tradições natalinas com ares europeus naquele calor amazônico; imaginava que as nossas mangueiras e os nossos pés de açaí enfeitados com bolas coloridas e sem neve alguma cairiam bem melhor, mas nossos ancestrais bem portugueses não permitiriam, portanto...


O belo registro natalino do ilustrador Sérgio Bastos com a árvore de garrafas pet  não se compara aos estranhos pinheiros cobertos de neve encontrados nos shoppings e nas casas da minha memória amazônica. 






Uma vez eu tive uma ideia: faria a minha própria árvore natalina. Com o dinheirinho disponível fui até à merceria da esquina e comprei balas e pirulitos; depois, o quintal da casa que morávamos ali na Boaventura da Silva, no  bairro do Umarizal, tinha o que eu precisava: um galho de goiabeira. Com esses dois auxiliares dei início ao meu plano. Teria finalmente uma árvore de natal bem representativa do que eu sentia, afinal era uma criança. Alguém já viu uma criança não gostar de doces?

A parte dois do meu plano envolveu uma lata cheia de terra. Foi dentro dela que finquei o galho de goiabeira e fui amarrando com fio barbante as balas e os pirulitos em distribuição harmônica dos doces que eu dispunha. Com um pouco de paciência consegui até comprar Sonhos de Valsa  e valorizar um pouco mais a pequena árvore de natal, mas eu não contava com a noite e nem com a fome do meu irmão mais velho.

Tan-tan-tam...- Na manhã seguinte eu quase tenho um treco, um ataque cardíaco ou um piripaque, porque encontrei a minha árvore sem nenhum dos doces mais valiosos. Chorei desconsolada, mas o culpado daquele crime não apareceu. Ele tinha ido ao trabalho e só retornaria à noite, depois das aulas quando chegava cansado e com muita fome.

Um rio de lágrimas - Fiquei amuada o dia inteirinho. Olhava para a minha árvore e as lágrimas caiam. Um sofrimento infantil, hoje alvo da memória hilária natalina.

Paz na Terra aos... - À noite, quando vi meu irmão mais velho entrar em casa o meu coração acelerou. Entraria em guerra com o inimigo da minha alegria, mas antes que eu ligasse o meu chorador ele me entregou um saco cheio de doces, inclusive com muitos Sonhos de Valsa, entre outros doces muito apreciados, como Diamante Negro e os meus preciosos Caramelos Dulcora. Foi selada a paz, mas  ela durou pouco. Sabe o que aconteceu? Meu irmão, na época um verdadeiro formigão, não aguentava ver as guloseimas ali dando sopa. Foi um tal de come e repõe durante dias até que entrei em chateação e decidi acabar com a árvore dos docinhos, mas não com as lembranças que ela conservou.

Minha @miga Barbara Horn construiu uma bela história da Árvore de Lata  ou Lata dos Amigos; se eu fosse você eu não deixaria de ler. Clique no Menina Prendada e comova-se fartamente.

Até a próxima!

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