domingo, 8 de agosto de 2010

Conte uma história paterna

Eu não tenho mais o meu pai; ele já morreu há muito tempo, mas tenho comigo as melhores lembranças de quem me ajudou a ter este DNA: o gosto pela leitura e a mania de aproveitamento, hoje denominada de reciclagem de produtos. Faço votos para que  as suas recordações sejam comoventes e que você também ainda possa desfrutar da companhia paterna. Viva um ótimo domingo em homenagem ao Dia dos Pais.

Figura culturalmente importante - A inegável importância da figura do pai na vida de uma criança, jovem ou adulto é incontestável. Muitos homens não parecem dar a devida importância à paternidade, afinal, ela é impulsionada e perpetuada  fortemente pela cultura, mas do contato afetuoso entre pai e filho muitas boas histórias a vida constrói, concorda comigo, caríssimo?
Ao leitor, pai assumido ou filho afetuoso e grato, os meus parabéns!- Leitura concentrada, Boca Maldita, Curitiba, jul 2010

História nº 1 - Quando eu era ainda uma menina dos meus oito a dez anos costumava ir  com o meu pai ao Ve-o-Peso, lá em Belém. Íamos sempre na hora da "viração", quando os produtos já tinham sido apalpados e sob o calor intenso que caí sobre a cidade, estavam com o selo de qualidade nº 2. Meu pai arrematava pencas de bananas e lotes de maxixe, quiabo, feijão de corda, uxi, sapotilhas e o que estivesse mais em conta e, assim, vencer as dificuldades no sustento da numerosa família que éramos. Estratégia paterna .

História nº 2 -  Nunca gostei de ver o meu pai fumando cigarro; ele gostava daquele fumo feito, ali na hora,  a partir do tabaco em corda cortado em tirinhas. O cheiro era horrível, mas nem por isso nós o desrespeitávamos, embora ali estivesse uma contradição, do tipo faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. Mais tarde, já completamente combalido pelo câncer pulmonar - doença que lhe tirou a vida, deve ter reconhecido o mal abrigado há tanto tempo. Fraqueza paterna, humana dependência.

Compartilhe histórias paternas - Eu sempre tenho muitas histórias para contar à minha filha sobre o meu pai. Creio que um filho sempre absorve das atitudes do pai as ambivalências que elas carregam. É assim que acontece com todo mundo. Pai algum é totalmente perfeito. Condição humana, sujeita aos revezes da roda-viva da existência.

Festeje carinhosamente - Caso o leitor já seja pai ou a leitora tem diante de si o pai dos seus filhos ou ainda a benção da convivência paterna desejo-lhe  disposição para que o abrace, sempre que seja possível. Diante da ausência física da querida figura, apenas as lembranças fortalecem a gratidão pela oportunidade de tê-la conhecido ou das experiências acumuladas pela convivência, temporariamente suspensa.

O melhor presente - Ao lado das meias, cintos, pijamas, chinelos ou  costumeiros presentes o abraço repassado no carinho é o melhor mimo neste Dia dos Pais. O meu pai, se estivesse vivo, adoraria também ganhar uma assinatura de jornalum serrote novo ou uma passagem de navio para rever a sua querida Alenquer.

Até a próxima!

2 comentários:

  1. Dia dos pais,aí está um assunto doloroso,não,ele não morreu.abraços,Doralice.

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  2. Certamente, Bê; há diferença no sentimento filial, quando o pai não marcou a sua temporada com as melhores atitudes, mas também não dá para viver, sob lembranças tristes. É preciso avançar, sempre.

    As inesquecíveis histórias, sejam boas ou más, existiram; muitas vezes é bom externá-las para que sejam exorcizadas em boa companhia.

    Um ótimo domingo; aqui, em Curitiba, um sol espetacular.

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